segunda-feira, 5 de março de 2007

Panorama da economia mundial para 2007: uma visão da superfície.

Tudo indica que a economia mundial continuará se expandindo em 2007, apesar dos temores de alguns analistas a respeito do desaquecimento da economia americana ou da diminuição do ritmo de crescimento chinês após a aplicação de medidas corretivas para evitar superaquecimento. Além disso, há temor de uma revoada dos capitais de risco para portos mais seguros em um movimento de aversão ao risco. Cite-se também o preço do barril do petróleo (e a instabilidade política dos maiores países produtores que geram dúvidas quanto a capacidade de oferta frente ao contínuo aumento da demanda), que no ano passado sofreu uma queda importante, e do gás natural que tem sido motivo de disputas geoestratégicas na região da Ásia Central que tem a Rússia como seu protagonista.

A China e a Índia, ao que tudo indica, continuarão a crescer a taxas superiores a 7% a.a. Com isso, o mercado mundial, especialmente o de commodities, manterá o ritmo de crescimento. De 2003 a 2006 houve uma expansão média de 26% a.a. no preço das commodities. Além disso, a relação de dependência ChinaxEUA, da qual os Estados Unidos, de um lado, mantém sua economia aberta para a entrada de produtos chineses baratos e, de outro, a China financia o déficit externo americano aumentando suas reservas que hoje já ultrapassam a casa do trilhão de dólares, não sofrerá significativas mudanças, já que interessa a ambos.

Quanto ao fluxo financeiro global, em que se destacam os hedge-funds, estes continuarão a causar temor no mercado, já que no mundo atual, marcado pela globalização e pelo capitalismo financeiro, há naturalmente maior imprevisibilidade. Não é possível fazer uma previsão certeira de quando ocorrerá a próxima debandada geral de "capitais especulativos" das economias emergentes, em um movimento de aversão ao risco. Uma pequena tormenta tem pairado sobre os mercados ultimamente fruto da queda abrupta do mercado de ações chinês. Mas, isto parece ser apenas uma correção no preço dos ativos e uma corrida à realização de lucros devido aos ganhos obtidos com a valorização da bolsa no último ano. Apesar disso, cabe lembrar que Paul Krugman vem alertando já faz algum tempo que uma crise paira no ar, e se originará no mercado de capitais. Uma das principais razões é que hoje os chamados junkie bonds estão pagando um prêmio de risco somente dois pontos acima dos títulos americanos, muito abaixo dos 8% que historicamente tem ocorrido e a qualquer tempo pode haver uma fuga de capitais para mercados seguros, nomeadamente o norte-americano.

Em relação aos EUA, apesar dos alertas do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan quanto a um possível pouso forçado da economia americana, tudo indica que esta se manterá nos eixos. Não há sinais fortes de desaquecimento, inflação ou mesmo do estouro da bolha no mercado da construção civil. Aqui parece que uma recessão poderá ocorrer no caso de uma tormenta atingir alguma parte do mundo e se irradiar pelo globo, como resultado de conflitos no Oriente Médio, da instabilidade econômica em algum país do sudeste-asiático ou de uma desaceleração abrupta das economias da China e Índia ou mesmo de uma recessão na Europa e Japão.

Assim, o Oriente Médio, local de permanente instabilidade política e disputas seculares entre países por poder e influência, pode, no caso de uma guerra envolvendo o Irã, Arábia Saudita ou Síria, levar a uma disparada no preço do barril do petróleo e ocasionar uma depressão econômica. No entanto, no caso específico do Irã, o presidente Ahmadinejad exercita muito de sua retórica, mas tem seu poder real restringido pela Assembléia dos Peritos, a quem cabe efetivamente ditar as linhas mestras da política interna e externa do país. Dessa forma, tendo em vista o pragmatismo observado pelos aiatolás, um conflito armado, ou mesmo nuclear, está longe de ocorrer. Já a Palestina segue sozinha em suas reivindicações contra Israel, apesar do apoio indireto e dos pronunciamentos dos países árabes e muçulmanos em favor de sua causa. Estes se encontram mais preocupados com o aumento de sua influência e poder e na liderança do movimento pan-arábico.

Por seu turno, Iraque e Afeganistão não têm poder, sozinhos, para provocar uma recessão global, visto que até hoje o mercado não sofreu abalos em função da guerra do Iraque e invasão do Afeganistão. Essas incursões dos EUA na região podem provocar o acirramento das tensões entre movimentos islâmicos radicais e o Ocidente, mas isso não contaminará a economia mundial, mesmo no caso extremo de um novo ataque terrorista.

Quanto à América Latina, observa-se um período auspicioso, e, ao que tudo indica, finalmente deslanchará o mercado de etanol na região. Se os EUA, por meio da assinatura de acordos na área de bicombustíveis, pretende retomar uma ação política mais vigorosa na região para tentar deter a influência crescente de Hugo Chaves na região, isto é secundário. O importante é que o continente novamente entrará na ordem do dia dos EUA, e com isso o Brasil pode vir a colher frutos de uma relação estratégica com a potência do Norte e aumentar sua influência na região, especialmente no "quintal" dos EUA, a América Central. Quanto à Venezuela, esta se move pelos delírios expansionistas de seu presidente que grita muito mas seu soft e hard power são muito diminutos, mesmo com todos os esforços praticados por Chaves em sua diplomacia do petróleo. Além disso, Bolívia, Equador e Nicarágua, países mais à esquerda no espectro político da região, agem na cenário internacional muito mais com base no pragmatismo e na busca de seus próprios interesses nacionais, do que em função de um idealismo utópico e irracional. Mesmo a Venezuela não se dá ao luxo de abdicar do mercado americano para a venda de petróleo, seu principal produto de exportação e de renda nacional.

Frise-se que a estabilidade do sistema financeiro e da economia mundial interessa a todos os países, especialmente a China e Índia, que dependem de matérias-primas e capitais estrangeiros para manter o crescimento econômico nos níveis atuais. Por isso, um conflito de grandes proporções envolvendo os países do “eixo do mal” não ocorrerá, ao menos no curto e médio prazos. No caso indiano, o país recentemente entrou em conversações com seu rival histórico, o Paquistão, na busca de entendimentos para por fim às hostilidades entre ambos que vem desde a época da independência. A China, por seu turno, vive um período de grande transformação interna. Atualmente, a Assembléia do Povo está se reunindo para discutir importantes temas como o direito à propriedade privada, o combate à corrupção, a reforma fiscal, o crescimento econômico e o orçamento militar.

Quanto à Rússia, esta vem experimentando altas taxas de crescimento econômico principalmente em razão dos preços elevados do petróleo e do gás natural. O país tem permanecido em isolamento pelos Estados Unidos desde o colapso do comunismo. Seu ingresso à OTAN tem sido bloqueado reiteradamente e o país não tem sido chamado para participar e para compor uma aliança com o Ocidente. Com isso, ele vem buscando seu próprio caminho, exercendo todo seu hard power em sua área de influência na Ásia Central, região rica em reservas de hidrocarbonetos que abastecem, por oleodutos, a Europa. O “grande jogo” na região se define em função do controle dessas reservas. A Europa não quer ficar dependente somente da Rússia e esta quer restaurar a influência que detinha durante a época da Guerra Fria.

Por tudo isso, é possível afirmar que a economia mundial continuará o seu período de grande crescimento após ter passado no século passado pela chamada “Era de Ouro do Capitalismo” no pós-guerra, que durou até o choque do petróleo nos anos 1970 e da crise da dívida dos países em desenvolvimento nos anos 1980. Grosso modo, a taxa de crescimento mundial provavelmente se manterá nos atuais 4,8% a.a. e a inflação por volta de 3,8%, a não ser que se desencadeie uma crise de confiança dos mercados emergentes, improvável, a não ser que haja um desaquecimento brusco da economia chinesa ou indiana ou um conflito político que avance para a luta armada no Oriente Médio, afetando drasticamente o fornecimento de petróleo, também improvável, visto que isto não interessa a nenhuma das economias avançadas ou em desenvolvimento. No mais, qualquer previsão que se busque fazer se revela um jogo esotérico, mais do feitio de uma cigana quiromante .

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